sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Mala é uma mala

Já entendi por que apelidaram gente chata de mala. Mala é uma mala mesmo! Quando me perguntam como foram as minhas férias na Europa, minha resposta padrão é: 'foram maravilhosas, só seriam perfeitas se eu não tivesse que carregar a mala!'. Viagem pela Europa de mochileira, ou melhor, de maleira, em que conhecemos várias cidades de uma vez, geralmente é assim mesmo. A maioria das cidadezinhas se pode conhecer em um dia, por isso acabamos trocando de cidade e de hostel praticamente todos os dias. Ou seja, um perrengue arrumar e desarrumar mala todo santo dia, carregar da estação pro hostel, do hostel pro quarto, de volta pra estação e, o pior de tudo, SUBIR NO TREM com a mala (alguém já reparou como as escadas dos trens são altas e íngremes?).

Fiquei extremamente orgulhosa quando consegui (ou achei que tinha conseguido) selecionar poucas roupas pra levar: 2 bermudas, 2 calças, 2 saias, 20 blusinhas de alcinha (que não pesam), uma rasteirinha, um tênis e uma sapatilha (que também quase não pesam). O problema foi a necessaire e a própria mala, que sem nada dentro já pesa uns 5 kg.

Mas, já no aeroporto, percebi que minha mala não estava tão levinha assim, e no primeiro dia em Napoli eu já não aguentava mais carregá-la! Agradecia a Deus por todas as escadas-rolantes, esteiras-rolantes e elevadores que Ele colocava no meu caminho, e quando eu pensei que Ele tinha me esquecido na última escada do metrô, uma santa se ofereceu pra me ajudar a carregr escada (não rolante) acima.

Quando chegamos na Costa Amalfitana, a tal mala foi ficando cada vez mais pesadinha, principalmente depois de comprar alguns cosméticos e garrafas de limoncello... Em Positano eu quase chorei quando vi aquela escadaria morro acima pra chegar no hostel, e uma mais pra chegar no quarto. Ainda bem que o Santo Cosimo, que trabalhava na recepção, nos ajudou no segundo "lance", pois nessa hora eu já tinha desistido. Pra completar, uma das rodinhas simplesmente gastou no meio do caminho e virou uma meia lua, fazendo um buraco no lugar do parafuso que lembrava um furo de orelha rasgada. 'La ruota è rota', eu não parava de dizer, querendo gastar o italiano que eu tinha acabado de aprender.

Até aquele ponto, eu ainda pensava em grudar um chiclete mastigado naquele buraco pra ver se funcionava como um durepox, mas a Sara, brasileira engraçadíssima que conhecemos no Vesúvio, sugeriu que, ao invés do chiclete, fizéssemos uma massa corrida com o pó cinza do vulcão que ficou impregnado em nossos pés (principalmente nos da Pati, que estava de rasteirinha) e usássemos pra fechar o buraco.

Claro que não tentamos nenhuma dessas táticas mirabolantes a la MacGyver, e com isso a mala foi gastando, gastando... até que no final da primeira semana ela parou de vez e não rodou mais! Se eu já não estava aguentando carregar com 2 rodinhas, imaginem sem uma delas... pensava a todo momento como os deficientes físicos se locomoviam na Itália, principalmente na Costa Amalfitana, onde as cidades são praticamente verticais.

Depois da Costa Amalfitana, fomos pro casamento da Silvia, e passamos 4 dias de principesse no Hotel Vittoria em Fenza. Nada de carregar mala durante esses dias! Pudemos deixar nossas necessaires no banheiro e tomar banho de banheira pra relaxar. Acabei deixando minha maldita mala na casa da Cecília, e só passei pra pegá-la no último dia da viagem, já que eu embarcava de Bologna.

Depois dessa mamata, voltamos ao nosso perrengue habitual. Eu, feliz da vida, carregando apenas uma mochila e uma mala de ombro. Mas como alegria de viajadeira dura pouco, depois de comprar mais 2 garrafas (desta vez, de vinho), a mochila ficou pesada novamente, e acabei deixando-a no locker da Stazione Centrale di Milano. Então, no último dia de férias, eu saí de Interlaken de manhã, tomei 4 trens até Milano, um metrô, peguei a mochila, mais um trem até Bologna e outro até Lugo. Jantei com a Silvia e a Ceci, peguei a mala, dormi no hotel em Bologna, peguei um voo até Madrid, outro até São Paulo, um taxi em Guarulhos e, ufa, cheguei em casa no dia seguinte à noite!

A saga da mala terminou hoje, quando acabei de buscar a maldita em uma oficina de malas lá no centro. O Sr. Américo, um velhinho meio gagá que deve fazer isso desde que nasceu, colocou uma roda nova, daquelas modernas que andam em pé e giram, no lugar da velha e gasta. O resultado foi uma mala manca, meio surrada, meio moderna e que provavelmente ainda vai me acompanhar por algumas viagens até chegar o dia em que eu terei coragem de aposentá-la de vez.

"Scrivere è viaggiare, senza la seccatura dei bagagli."

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Un giro in Italia

Muitos me perguntam o que fazer na Itália em 10, 15 ou 20 dias... e me pedem dicas do melhor roteiro e ordem das cidades. Portanto vou resumir o que penso, tentando me abster da minha opinião pessoal de que é o país mais lindo do mundo e revelando o básico e o mínimo de dias em cada lugar para que você tenha tempo de conhecer o imperdível.

Sempre digo que as principais cidades da Itália são Roma, Firenze (Florença) e Veneza. Apesar de serem extremamente turísticas, dispensam comentários, elas realmente valem a pena. Em uma viagem de uma semana ou 10 dias dá pra conhecer muito bem estas três cidades, totalmente diferentes entre si, e que representam vários estilos italianos. Você irá precisar de, no mínimo, 3 dias em Roma, 2 em Firenze e 2 em Veneza. Como há vários voos diretos do Brasil para Roma, sugiro conhecê-las nesta ordem, e o melhor meio de transporte entre elas é o trem, já que é inviável dirigir no centro dessas cidades e você também poderá aproveitar o tempo da viagem para descansar (ou ainda, para ficar admirando a paisagem, como eu).

Se você desembarcar em Milão, ou se tiver uns dias a mais de viagem, pode aproveitar também 1 ou 2 dias para curtir esta cidade. Mas, apesar de eu ter morado lá durante 3 meses, não diria que é uma cidade imperdível. O Duomo é realmente impressionante, imenso, maravilhoso, e você pode conhecer tanto dentro quanto em cima. É lindo andar pela “laje” da catedral e ver de perto os pináculos e gárgulas de estilo gótico, além de ter uma bela vista da cidade. Mas não tem muito mais que isso.

Na frente do Duomo, você pode passear pela Galleria Vittorio Emanuele e passar o calcanhar pelo touro pra dar sorte! E ali pertinho, a apenas algumas quadras de distância, está o Castelo Sforzesco, que pertencia às famílias da dinastia renascentista milanesa, e onde hoje se encontra a Pietà inacabada de Michelangelo. Outra obra importante de Milão é o afresco da última ceia de Leonardo, que fica na igreja Santa Maria delle Grazie. Mas para conhecer esta tela pessoalmente, você precisará reservar com alguns meses de antecedência, portanto planeje-se!

Se você der sorte, poderá assistir a uma ópera no famoso Teatro Scalla, ou ainda fazer umas comprinhas no quadrilátero da moda, uma rua onde concentram-se as lojas das principais grifes italianas. Na primeira semana de janeiro, e também no fechamento de cada estação, tenha paciência, pois as filas para entrar nessas lojas durante o saldi, as liquidações, são quilométricas.

Para concluir as dicas da cidade, tome um tradicional aperitivo no Naviglio, um canal que concentra os principais barzinhos da cidade. O aperitivo começa no final da tarde, em horário de happy hour, e você pode beliscar vários petiscos em estilo self-service pagando apenas a bebida que consumir. É uma ótima pedida para descansar de um dia de caminhada pela cidade.

Além das cidades mais turísticas da Itália, há outras duas regiões que considero imperdíveis: a Toscana e a Costa Amalfitana. Para andar pela Toscana, sugiro alugar um carro em Firenze, pois desta forma você poderá conhecer várias cidadezinhas em um dia no seu próprio timing. As mais charmosas são Montalcino, Montepulciano, Pienza, San Gimignano, Siena e Lucca. As três primeiras você pode conhecer em um dia, parando na estrada para apreciar a típica paisagem toscana, com seus campos verdinhos cheios de pinheiros... Além disso, pra quem curte vinho, esta região é um paraíso. Não deixe de entrar em todas as Enotecas para assagiare (experimentar) vários tipos de vinho e comprar uma garrafa de Brunello de Montalcino, ou Nobile de Montepulciano.

Lucca e Siena são cidades maiores e igualmente lindas, que merecem um dia inteiro para cada uma, portanto reserve no mínimo 3 dias para conhecer a Toscana. E se tiver mais um dia livre e bastante fôlego, conheça também Cinque Terre.

A Costa Amalfitana foi minha última paixão italiana, e você poderá acompanhar mais dicas nos posts anteriores deste blog. Reserve pelo menos um dia para Capri, um em Sorrento e um em Positano. Amalfi e Ravello você pode conhecer em um dia, saindo de Positano. E se quiser variar um pouquinho das cidades praianas, aproveite para conhecer também as ruínas de Pompei, que fica ali pertinho. Portanto, de 3 a 5 dias será suficiente para conhecer a região da Costa Amalfitana.

Por último, mas não menos importante, gostaria de destacar mais 2 cidades que considero importantes: Verona e Assisi. Caso você tenha tempo, vale a pena parar em Verona no caminho de Milão para Veneza, e em Assisi entre Roma e a Toscana. Em contrapartida, apesar de turística, eu não indicaria Pisa, a não ser que você tenha bastante tempo e dê uma passadinha por lá de carro durante os dias que estiver na Toscana. Você precisará de apenas 2 horas para tirar uma foto segurando a torre torta, como todos fazem, e de mais alguns euros para subir na torre, que na minha opinião não compensa. Como diria a minha amiga, se for pra ir pra lá só pra tirar uma foto, melhor fazer uma montagem!